28 de setembro de 2015

                CLAUDIONOR O POETA ANDARILHO NA RODOVIÁRIA DE UBERABA


Ele olha para mim, fixa na minha camiseta amarela da Enfim que está escrita " gente que te inspira" com o passarinho vermelho voando para o coração vermelho.
Senta do meu lado com a marmita na mão, camisa marrom clara, é um negro de seus 57 anos. Olha pra mim estou lendo Todos os Cachorros são azuis de Rodrigo de Souza Leão. para meu estudo, relendo na real é a quarta releitura. Ele só fica a me observar , sente a necessidade de falar comigo, mas vê estou concentrado. Levanta e senta no outro banco quase de frente de mim. Eu o saco, penso e volto a minha leitura.
Depois de quase vinte e cinco horas na estrada tenho que esperar mais uma hora para ir à Araxá rever meus pais, irmãs, sobrinhos e amigos.
Levanto, vou até banca de jornais e compra uma água. Dou uma volta na rodoviária, vejo as pessoas que embarcam para seu destino.
Sento em outro ponto de frente da plataforma 9 onde sai meu ônibus.
Claudionor senta novamente do meu lado e me pergunta:
_Gente que te inspira?
_ Tem gente que inspira e tem algumas que não.
Ele puxa papo. E me conta sua lorota.
Diz que é poeta, o poeta andarilho. Que viveu em Brasília na rodoferroviária, que ali em Uberaba, que apesar de ser poeta não consegue perdoar as pessoas que o agridem.
Que uma PM mulher sargento no dia de ontem domingo tinha o acordado e ele ficou puto com isso o dia todo.
Conversa vai e conversa vem.
_Você já foi casado Claudionor?
_Não, nunca se fosse não seria andarilho.
Ele me conta que fizeram um documentário com ele em Brasília , o filmaram na rua declamando sua poesia. Mas que ele quer ser anônimo.
Digo que sou poeta a ele.
_Vou te declamar um poema meu. “O garoto abandonado não tem chão quer encher seu coração”.... Declama seu poema.
Peço a ele que me declame outros poemas seus, ele o faz com naturalidade e boa oralidade.
Pede a mim que eu declame alguns poemas meus.
Declamo uns poemas do Leminski e um de Aline Fonseca , uma menina de Floripa.
É hora de embarcar no ônibus , dou quatro pilas a ele e sigo meu caminho.
Antes de entrar no ônibus ele ainda diz:
_Amigo, lembre-se que ainda existe a poesia. A poesia.





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